sábado, 10 de março de 2012

Sobre sentir saudade e seguir igual para mudar, sem culpas nem dramas.

Morreu minha avó. Mãe do meu pai. Com quem, do mesmo modo que com o meu pai, eu nunca tive uma relação verdadeira. É triste que ela se vá sem que a gente tenha tido oportunidade de se conhecer e, de fato, reconhecer. Sem que a gente pudesse ter sido realmente neta e avó. Sem que a gente brincasse de qualquer coisa proibida pelos meus pais. Sem que o 'dorme com Deus, os anjinhos e amém' fosse verdadeiramente carinhoso. Sem que o doce de pingo fosse a lembrança mais doce que eu tenho dela. Gosto dela. É minha avó, é parte de mim. Mas uma parte que eu não sei direito como é e, portanto, não consigo entender o sentimento que me assola agora, na sua partida. Sou grata a ela, porque antes de tudo, foi ela que pôs meu pai no mundo e, portanto, permitiu minha existência, de certa forma. Sou grata porque ela criou meu pai, com certeza com alguma dificuldade no caminho. Sou grata porque ela pagou minha pensão cada vez que meu pai não o fez e, até hoje. Sou grata pelo bigode, porque com mulher de bigode, nem o capeta pode. Sou grata pelo sabão de côco, eterna lembrança da casa dela. Sou grata pela cachaça que meu sangue insiste em engolir. Sou grata porque, apesar de tudo, ela foi simpática comigo da última vez que nos vimos, e sorriu. É essa lembrança que vai ficar, a do sorriso da minha vó, já pequenininha, diminuindo, encolhendo, indo, mas andando comigo até a porta, falando bobagens no meu ouvido e rindo. Vá com Deus, vó. Fica agora a mim a difícil missão de reconstruir a relação com o meu pai. Ou melhor, construir, já que eu não lembro de ela ter existido, um dia. Espero ter coragem e humildade pra me aproximar dele, e muita, mas muita paciência pra aguentá-lo, sendo ele, mais chato do que eu que só. No seu aniversário, papai, uma cartinha vai começar essa jornada. Força.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Sobre uma menina tosca, grossa, avacalhada e apaixonada


Esta sou eu, de ressaca, com uma mudança pra agilizar e muito sono acumulado. Cansada, de tanta burocracia e correria. Sem espaço no meu próprio espaço. E a única coisa que eu consigo fazer? Pensar. A única coisa na qual eu penso? Ele. A única vontade que eu tenho? Ele. Como proceder? Meu carinho vai sempre em tapas e as luzes do meu copo agora têm um foco. Apesar da negação, amo a situação. Tenho sido só coração. Tenho sido tosca e grossa, ao invés de objetiva e meiga. Tenho sido acavalhada ao invés de faca na manteiga. Tenho sido a diva súbita e descabelada que está, cada dia mais, apaixonada.

Sobre sofrer por antecipação pelo braço que se vai


Estou indo embora
E não é de agora
Mas eu ainda não fui
Eu estou bem aqui
E já sofro pelo fim
Que ainda não chegou
Fico pensando no que vou pensar
Quando olhar o que restar
Ao contar o que sobrou
Tento imaginar
Os sentimentos do lugar
Pra onde vou
Faço planos e relembro
Esta casa é de mim um mebro

quarta-feira, 7 de março de 2012

Sobre o lado selvagem


E olhar o céu me desespera. Receio a janela que me espera. É a última semana aqui, onde tudo vivi. Sofri. Sorri. Morri. Renasci. Cresci. Segui. Seguir é sempre perigoso, divino e maravilhoso. Choro como um menino e, ao mesmo tempo me revigoro. A mudança externa é reflexo da interna e, olhando pra trás posso ver como mudei, no que me tornei. Gosto do que vejo, embora longe do que almejo. Soltei no vento meu desejo e sigo, apenas, vivendo um dia de cada vez. Não tenho planos para o fim do mês. Não tenho grana. Me gusta qualquer programa. Estendo minha toalha sobre a grama concreta e sorrio, feliz e discreta. Tenho andado bem cansada, suada e até um pouco chateada. Não estou certa nem errada, sigo apenas minha jornada. A caminhada me trouxe muita beleza e a feiúra me serviu de escola, com certeza. Agora vejo com clareza cada medo do qual me libertei e as marcas que deixei por onde passei. Esperei. Encontrei. Neguei. Fugi. Agora estou aqui, a me consumir. Boba e brava, onde eu estava com a cabeça? Talvez eu não mereça. Mas, por incrível que pareça, gosto bem e assim mesmo. E continuo seguindo, apaixonada e perdida, a esmo. Com meus poemas de introdução e o amor na contramão. Difícil é conter meu coração que quer pular pela boca. É, devo estar louca, e velha. Venha, vamos jogar. Não há nada que possa nos parar. Nem de você, me afastar. Nenhuma força virá me fazer calar. Sou muito romântica. N'outras palavras, que eu não sei falar, amo mesmo e hei de amar. Sinto saudades e saudades vou deixar. Vou chorar a cada vez que relembrar, tristeza e alegria misturar. Mas não vou, aqui, estacionar. Há muito mar ainda a navegar e, no raso, também se afoga. No mar tudo se joga, tudo pode imergir. Não preciso, não devo e nem quero fugir. Vou apenas, renovada, seguir. Muito embora eu não saiba, ao certo, onde ir. Se você vier comigo eu vou sorrir a mais. Até logo mais, no apartamento da Goitacazes. Este eu deixo às aves que, apesar das grades, se arriscam a voar.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Caminhar


O vazio me incomoda
O eco me desespera
Cansei de estar na moda
Não suporto essa espera
Aporto cambaleando
Naquela minha janela
Quero guardar cada centímetro
De qualquer coisa estranha e bela
Choro e berro para o teto
Deixo a poluição me invadir
Um pedaço meu
Nela sempre há de existir
Não há como negar
Tudo o que vivi aqui
Sempre estará em mim
Mesmo que eu não me arrisque a voar
Sempre engolirei este ar
Adeus
Meus desejos fui desamarrar
Me encontre lá
N'outro lugar
No meu novo lar
Ainda há muito mar
Que eu quero e devo navegar
Por isso não posso parar
De amar
Fiz meu caminho no ar