domingo, 4 de dezembro de 2016

o mar (ou água e sal)


de todas as coisas a que eu mais gosto é o mar.

a vista pro mar do seu apartamento,
o mar do seu nome e meu lamento
onde eu ponho os barquinhos de papel pra navegar

há mar
onde estive, uns dias, a me afogar
e senti o cheiro, o sal, o gosto
escorrendo quente em meu rosto

(a)mar
que posso agora incendiar
com minha letra no mural da sua parede,
recomeçar
e matar a minha sede (de ti)

cantada (ou inverdades)



resolvida a correr o perigo
deste perigoso estar contigo
quis fazer abrigo

neste seu sorriso de olhos apertados
na sua pele lisa de poros rabiscados
na ventania rosa do céu do apartamento
na poesia prosa desses raros dias sem tormento
na aflição antiga de não saber seus passos
no esquecer do mundo deitada em seu abraço
do medo bobo desse amor ser mais uma cilada
da vontade louca de me fazer mar

pra você ser barco em chamas de recomeço
e eu a outra na-morada

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Mar

Às vezes a vida me obriga a parar
Descer do leão que insisto cavalgar
E observar o infinito

Agitado

Fico aflito

Não sou da pausa

Peixe fora d'água, não sei respirar
Só estou em casa
Quando posso me afogar

domingo, 13 de novembro de 2016

eu não nasci para ser feliz



eu, inconveniente, nasci no meio de um monte de gente
com a marca da coragem, cheia de verdade e sem vergonha
não pude ser feliz neste mundo covarde conveniente
porque eu sou aquela que vive o que sonha

A foto é do Téo Nicácio.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Dia dois

Alguns dias
São mais difíceis de encarar
Nesses dias
Nem sempre é possível suportar
A saudade que me dá
A vontade de abraçar
A iminência de chorar
Algumas canções não podem - jamais - tocar
Na hora errada
Como a cantada que não dei
E a estrada errada que escolhi
Desde que (não) te vi

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Sonho real

Que saudade que me deu, hoje, ouvindo a Gal!
Das manhãs de domingo ouvindo o Rei
E os passarinhos no quintal...

Sabe aquele violão que você queria consertar?
Resolvi aprender, sozinha, a tocar
E ainda ouço a rádio ao acordar...
Acho que eu só queria mesmo te contar

Tenho saudade de te ouvir cantar
Esquisito
E mesmo feio eu - ainda - te acho bem bonito

Gosto de lembrar da gente indo dormir de All Star
E dos sorrisos no meu corpo que você vivia a rabiscar

O mais engraçado é lembrar disso com um sorriso tranquilo na cara
Repara!
Não tem rancor e não é mais aquele amor

Já não há dor, a ferida cicatrizou
E o que restou é bom
Não quer voltar mas não se importa em recordar
Do teu cheiro ao acordar

E aquela canção no meu aniversário já sabia
Que o sonho que eu queria
Hoje é real, não fantasia

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Sem nome mas com endereço



Não conseguiu dormir. Às cinco da manhã constatava, vacilante, o motivo da insônia. Insinuantes seus sonhos haviam transportado-se para o estado desperto e feito morada no dia. Um dia de domingo. Aquela casa onde estivera certa vez a suspirar, muda. O portão, a rampa, a varanda, os móveis, o sal. E o doce de esperar por aqueles dias em que a beijaria. Os discos da Gal. O quintal. Se amar na relva. Rir e dormir junto. O conjunto de coisas encaixando quase milimetricamente nos seus sonhos desplanejados, porém esperançosos de um dia acontecer. Os filhos que iriam ter, de cuca legal, a dizer 'meu nome é Gal'. Um lugar pra chamar de seu, e pra plantar amigos. Especialmente aos domingos. Finalmente ensinar a cozinhar e as cervejas do começo tomar. Eles se deram bem. Seus caminhos se cruzaram também. Uma, duas, vinte e sete vezes. E vão se cruzar outras cinquenta mais. Pra acontecer, se acontecer. Ou apenas esquecer e sonhar mais um sonho impossível. Possível ou impossível de acontecer. Possível ou impossível de se realizar. Possível ou impossível de se dizer o tamanho do querer. Sufocava e ocupava seu peito a dúvida e assim só sobrava espaço pro coração na mão. Não sabia o que fazer e o que a esperava ao dobrar uma esquina e queria o tempo todo estar preparada pra mais um encontro. De mar. De navegar. De recomeçar como os barcos dizem. De amor. Pois é o amor que faz o homem. E os peixes que morrem afogados no ar fora dos aquários.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Mal secreto


Apesar de triste
Não estou
Contudo
Mal humorada
É só que no meu sorriso
E na piada - desesperada!
A solidão
Já fez morada

[Foto: Téo Nicácio]

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Mergulhar na surpresa


Todos os dias visitava a página na esperança de um texto novo, pra ela.
Todas as noites olhava a lua, sorridente, pela janela do quarto.
Todos sabiam que ela namorava o seu retrato na mesa.
E você nem sabia que iria mergulhar na (sua) surpresa!

(Foto: Téo Nicácio)

domingo, 31 de julho de 2016

Zona Last (Rosa dos Ventos II)


Essa emoção
Também é pulsão
De vida
Que me veste.
Alguém duvida?
O Deus que guia
O que me impulsiona
Disse: Sorria!
Mandei a zona
Pra ser seu leste.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Espumas ao vento (ou Catavento e Girassol)


Quero você um tanto bom, já.
Nem sei se sei ou quero explicar:
Ainda não é paixão nem amor será.
Mas vontade das grandes há.

Contudo não hei de voltar:
"Tudo que eu posso te dar é solidão
Com vista pro mar...
Ou outra coisa pra lembrar"

Sempre indo de patins na contramão,
Não sei dançar tão devagar
Pra te acompanhar

Me dói um tanto isso constatar:
Não me cabe aí
E não desejo mais te incomodar

Mesmo assim se eu for, ao chegar
Não vou ficar tão à vontade
Talvez chegue mesmo a atuar

Fiquemos então na vontade.
Sejamos, portanto, saudade.
Da boa.


[Foto: Téo Nicácio]

domingo, 15 de maio de 2016

Temp(L)o rei

Há tempo pra tudo.
Só nao houve pra gente se conhecer.

Há tempo para tudo.
Ainda haverá de acontecer?
Haverá tempo pra tudo?
Pro amor nascer, crescer e este fruto apodrecer?

Há de haver o tempo de eu te esquecer.
Porque há tempo pra tudo,
Até pro não haver.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

12 de maio

Hoje eu chorei lendo um poema de amor.

Eu, que nem gosto assim de poesia,
E que tenho deixado a louça acumular na pia da cozinha,
Tenho me sentido tão sozinha
Desde que você não ligou...

Me abandonaste falando às paredes nas madrugadas vazias
E, do que era antes, conversa interminável sobre o nada todo dia
Restou somente o nada e esta poesia

A nadar feito mensagem de náufrago
Que a gente nunca sabe se chegou
Ou, se chega e é lida, ninguém nunca contou,
Feito a resposta que você nunca enviou.

Hoje eu chorei e, escrevendo um poema de amor, fiz se esvair toda a dor.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Ia(nsã)


Eu
Ando te querendo mais que deveria
Pensando em você desde o raiar do dia
Da primeira manhã em que eu acordaria
E te diria
Meu
Como tu não és nem poderia
Onde não estás e eu não saberia
Toda sua cor eu decoraria
E assim seria
Seu
Como pude ser enquanto sorria
E te demonstrar ser só calmaria
Sem te avisar que derramaria
Em ti
Toda a minha ventania

(Foto: Téo Nicácio)

segunda-feira, 25 de abril de 2016

(M)Ar (Peixe fora d'água ou Do aquário)


Algum tempo estive a esperar
Que você viesse com seu barco me procurar
Nas bravias ondas desse sentimento que tentaram me afogar

Aqui, onde meu barco de papel está a desmanchar

Invento sinais para - até seu porto - me guiar
Procuro seu cais - neste sufoco - para aportar
Às vezes avisto - e fico louco! - o farol para me iluminar
Mas me perco - pouco a pouco - nas suas ondas e não sei navegar
Neste mar onde as mensagens de náufrago não chegam e você nunca pode ficar

Meus navios vou queimar.

(Foto: Téo Nicácio)

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Eles passarão, eu passarinho


Se eles passarão, eu passarinho.
Com muito medo e tesão, bem devagarinho.
Como me cresceram as asas, rasgando quente a pele,
Peço apenas que a verdade se revele
E, assim, possamos seguir pelos ares,
Enfrentando os dragões desses bravios mares...
Voando raso sem nos afogar,
Porque agora que criei asas, eu já sei voar
E nenhuma mentira irá me calar!
A esperança reside em mim feito a criança sorria
E, por mais triste que seja esta noite,

Amanhã vai ser outro dia.

(Foto: Téo Nicácio)

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Cinco de abril


Eu, racional
Sem parar de falar
Imergi na camisa que te veste
Te guiando no caminho que vieste
E, natural
Te abri a geladeira:
Estava ali a vida inteira...
Você não entendeu a brincadeira

Vou ter que te ensinar a cozinhar.

(Foto: Téo Nicácio)

terça-feira, 5 de abril de 2016

Sussurro (ou As paixões passam e as canções ficam)


A cada quinze dias (ou menos)
Eu descubro um som novo, ao menos.

E aí o tempo para
Pr'eu ouvir
Repara:
É como se estivesse aqui

A emoção é sempre a primeira
A poesia da letra me parece brincadeira
A melodia bate em mim feito um murro

E eu sussurro:
Volta pra mim que eu te aturo!



(Para Luís Capucho e Vitor Ramil)
[Foto do Téo Nicácio]

terça-feira, 29 de março de 2016

(Sor) Tudo

Sou forte
Ouvi dizer que é da sorte
Não me faltar saúde,
Pessoas,
Norte...
E muita vida entre cada morte

Só falta mesmo saber me fazer cais pra que você, em mim,
Aporte

segunda-feira, 28 de março de 2016

Meu recado

Meu corpo não está aqui exposto para que você o deseje, para alimentar suas fantasias sexuais. Meu corpo está exposto porque ele é um corpo, livre, que tem esse direito como qualquer outro corpo. Se fosse um corpo masculino provavelmente não causaria tanto rebuliço. Mas por eu ser uma mulher e a mulher ser, tradicionalmente (na nossa sociedade machista), objetificada sexualmente, é sim um escândalo e uma dor imensa um mamilo de fora! Causa espanto (quando não causa ereção!), não é mesmo? - É um absurdo! - bradam os rinocerontes. Pois vou te contar: Não é não! É só um corpo. Como o seu, como o de todo mundo. O instrumento de nossas vidas. Um peito como o que te amamentou. Nada mais que isso. Pode até ser sim, bem bonito. Mas que corpo não o é? A perversão está na sua cabeça, é um problema seu. Imagine no meu lugar um homem e esta foto seria completamente normal, até mesmo banal. Acho que é (passada a) hora de refletir. Eu sou (o projeto de) uma artista que tem como base corpos (o meu mesmo, na maioria das vezes) e meu objetivo não é outro senão provocar o debate e a profunda reflexão sobre a sociedade em que vivemos e - principalmente! - o papel/espaço da mulher nela, além de exorcizar toda e qualquer dor que me aflija, como sempre fiz. Silenciosamente, eu diria, pois não sou de discutir o assunto mas quem me conhece sabe muito bem meu posicionamento: Machistas não passarão!

[Foto: Téo Nicácio]

domingo, 27 de março de 2016

(Meu) Coração selvagem


Passei a vida querendo viver uma canção.
Até tatuei, dela, o coração.
E, de repente, sem ter me dado conta, cá está ela, sendo por mim vivenciada.
Uma a uma as palavras foram por nós soletradas:
Desatados desatinos pelas madrugadas...
Cada uma das estrofes parece ter sido, por nós, inventada!
Assim também, é pra você mais essa cantada
Que escrevo um tanto quanto sem razão e até mesmo um pouco envergonhada,
Guiada apenas pelo meu coração selvagem em sua apressada cavalgada.
Estranhamente não anseio correr com você!
Tem que ser bem de-va-ga-ri-nho para eu ter tempo de ver
Todo o refrão naquelas frases acontecer:
O rádio no carro, a turma, o bairro...
O mundo inteiro naquela estrada ali em frente
E eu me apaixonando de novo e outra vez por você, tão contente!
Deixar o barco seguir o mar dessa corrente
Até perder a noção do que é que pode acontecer entre nós:
Sua língua em minha tez e meus poros, sua voz?
Será mesmo tão difícil criar laços e desatar os nós?

Liberta sua canção, guarda uma frase pra mim, com emoção
E vem correr perigo, comigo, amigo!

(Que outros cantores chamam baby.)

[Foto: Téo Nicácio]

sábado, 26 de março de 2016

Simples, mente, complicado.


Difícil te entender,
Por mais que eu esteja, verdadeiramente, interessado.
Você se dizia tão simples que se mostrou simplesmente bem complicado.
Não sei porque, ainda assim, quero - tanto! - estar ao seu lado!
Vai ver tem alguma relação com o meu gostar de sofrer
Pois mesmo sem pressa nem esperança,
Aposto na surpresa, feito criança, imaginando o interfone tocar
E você,
Numa mensagem pelo celular: Abre a porta, me deixa entrar!
Não vês que já deixei você me bagunçar?
E essa desordem, quem vai arrumar?
A porta vai estar sempre aberta
Por mais que eu esteja no ar e a casa, deserta.

[Foto: Téo Nicácio]

quinta-feira, 24 de março de 2016

(Tantas) Notícias

Se encontrar um dos meus, mande um abraço.
Por aqui as coisas estão loucas, apesar do meu cansaço.
Acho que não sei, não
Mas nasci pra levar essa vida insana de solidão.
Arrogância minha ou não,
Nunca sei o rumo que as coisas vão tomar nem em que esquina virar.
Por isso mesmo vou andando sem nunca parar,
Deixando tudo sempre mesmo para trás:
As pessoas, coisas, lugares e o que o amor me traz.
Do meu coração já não sei mais.
Entreguei na sua mão e segui (s)em paz,
Outro dia mesmo, aqui, no portão.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

A gosto

Eu amo
O seu cheiro
O seu gosto
Amo
Quando ponho um sorriso no seu rosto
Amo te ver
Disposto
A me ter
E a esquecer o desgosto

Até me pertencer

Delírios (ou Bem devagarinho)


Devagar,
Como eu não sei andar.
Divagar
Sobre o futuro a nos esperar
Quando a esquina virar...
De vagar
Pelas ruas desse mar

Até você me amar!

[Foto: Téo Nicácio]

domingo, 24 de janeiro de 2016

Chuva

E pela primeira vez eu falei
Tudo que eu quis falar
Desde que me apaixonei
E resolvi me calar
Pra você de mim gostar
E em canções bobas de amor passei a acreditar
Ao invés de ouvir meu próprio radar
E viver
Apenas
Com muitas pequenas
Bobagens me ofendi
E precipitadamente agi
Te perdi
E um amigo encontrei
Agora sei
Que a paixão
Era pelo você que inventei
E o você real não
Pude ver
Agora vou deixar ser
Como for
Pro ódio ou amor

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Falou, amizade! (ou A vida acontece)

Meu amigo,
A vida acontece.
Enquanto a gente enche a cara
E faz planos vãos.
Mesmo quando as ideias são claras
E a luz no fim do túnel não.
A vida simplesmente acontece.
E, sem abrigo,
A gente cresce.
Falindo;
Chorando;
Trabalhando;
Sorrindo;
Jogando...
A vida acontece, seguindo,
Até a gente encontrar o que merece.

[Para minha consciência masculina, com um carinhoso murro na cara.]

domingo, 17 de janeiro de 2016

Penny Lane (ou quase famosos)

Toda vez que me apaixonei foi por um som.
Não foi preciso arrancar o meu batom
Nem a minha pele tocar.
Pra fazer eu me encantar
Só foi preciso cantar
A canção que tocou na hora certa
Nalgum instante em que eu estava deserta
E me olhar de frente
Ou do palco, imponente.
Pra me fazer contente
Nunca tiveram que me amar
Só os meus sonhos e os shows que eu vou, habitar.


Seu nome aqui (ou o que falta neles)

No fundo eles são você faltando pedaços
No fim eu procuro você em tudo que caço
Afinal só vejo você por onde passo
E é pra você tudo que eu faço
Como é seu este poema
Suas são estas palavras
E todo seu é o meu querer

Por onde anda você?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Corsário

como é eu faço pra você se apaixonar
como tantos que fiz sem nem me esforçar
?

em qual esquina do bairro vou, de novo, te encontrar
que dia desses vou, então, poder te ver tocar
?

um dia eu vou lembrar de onde parei meu violão
e (ti) buscar a mão do (a)mar
mais que o cais - de desejos vitais - que aquele dia
avistei no seu cantar
e (ti) n(av)egar
?

sábado, 2 de janeiro de 2016

Serena noche

chove suave lá fora
e sou só eu e o bordado agora

o mesmo movimento
o ritmo lento
lisas pérolas
brilhantes como eu, reflexivo

música boa
meu coração, vivo

e o pensamento ativo
em você
altivo
à mercê
de revoltos cabelos
nocivos

não sei bem os motivos
mas quero ficar
e, na noite, serenar