sábado, 12 de novembro de 2011

Eu não me acostumo

Não. Eu não poupo a vida. Eu não me acostumo. Não acordo sobressaltada, vou de levinho ouvindo música. Eu não tomo café correndo, nem leio jornal no ônibus. Aliás, eu ando a pé, interagindo com a paisagem, ainda que ela seja de concreto. E meu café, é demorado, da minha janela de cortinas bem abertas onde o sol racha e eu vejo as notícias em tempo real. Às vezes, me esqueço mesmo de olhar para fora de mim, tamanha minha solidão bem resolvida (ou egoísmo mesmo). E o sanduíche no almoço passa mais perto da preguiça de fazer almoço só pra mim que da falta de tempo. Eu não saio do trabalho, ele vai comigo onde eu for, e nunca acaba, e eu gosto. Se pego o ônibus, num raro momento, gosto de ver a cidade e as pessoas lá fora, enquanto assobio uma canção; nada de cochilar. Não gosto de ir dormir sem ter vivido o dia, embora isso aconteça, raramente. Meus sorrisos quase sempre são retribuídos, embora nem sempre eu ouça de volta o mesmo bom dia e tenha que lidar com grosserias. Também sei lidar com grosserias, apesar de preferir as gentilezas. Por saber que você não vem, raramente questiono. No fundo, ainda espero. Sei me fazer notar, fica difícil me ignorar, mas não vou insistir eternamente. Não me acostumo a pagar por tudo, boa parte faço eu mesma. Não, eu não me acostumo à poeira cinza da poluição que encarde minhas cortinas e, muito menos, ao ar condicionado com cheiro de cigarro que - acreditem - me traz boas lembranças. Prefiro sofrer a me acostumar. Não afasto minhas dores, deixo sangrar e estou, quase sempre, prestes a me rebelar. Me rebelo, me revolto, luto, brigo. Se eu chegar até a areia, não vou molhar somente os pés, vou mergulhar, apesar do sal e do medo do mar. Se o cinema estiver cheio, eu chego mais cedo ou volto depois; gosto de me sentar no meio da sala e de ser pontual. Fins de semana não me consolam. Para mim, todo dia é dia de viver, de trabalhar, de dormir e de farrear. Não poupo minha vida. Já disse, EU NÃO ME ACOSTUMO! Eu vivo, apenas.

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